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A quebra na safra de uva de 2016 de 57% na produção em decorrência de fenômenos climáticos trará como consequência uma redução drástica no estoque de passagem de vinhos. Para os finos, não deve haver grandes problemas. O estoque seria suficiente para garantir o ano inteiro e ainda nove meses do próximo ano. Projetando uma redução de comercialização de 10% neste ano em relação ao ano passado em todos os produtos, a expectativa do setor é os estoques mais a produção desse ano devem ser suficientes para 2016. Mas, dependendo do cenário, difícil de ser previsto num ano atípico, pode faltar vinho de mesa no início de 2017 ou suco de uva ainda nos últimos meses de 2016.
A quebra de safra foi causada por temperaturas mais altas do que o normal durante o inverno, que anteciparam a brotação, somada a uma frente fria em setembro que trouxe geada, mais o excesso de chuvas e altas temperaturas na primavera, o que aumentou a incidência de doenças causadas por fungos, e ainda o granizo. Assim, foi desenhada a pior safra da história do setor, com 301,7 milhões de quilos de uvas, enquanto que, nos últimos anos, a média de produção sempre tinha ficado na casa dos 600 ou até 700 milhões de quilos.
No caso dos vinhos finos e espumantes, o ano de 2015 terminou com um estoque de 56,1 milhões de litros, segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Somado a isso a produção de 16,9 milhões deste ano, temos 73 milhões de litros. O Ibravin trabalha com a estimativa de vender 10% a menos em 2016 do que no ano passado, o que significaria 41,2 milhões de litros comercializados. Desse modo, terminaríamos o ano com um estoque de 31,8 milhões de litros, que seriam suficientes ainda para abastecer o mercado em 2017 por mais nove meses. Por essa época, os vinhos mais jovens da próxima safra já estariam no mercado.
Já falando de vinhos de mesa, o estoque no início do ano era de 129,7 milhões de litros. A produção foi de 76,5 milhões de litros esse ano, o que significa 206,2 milhões de litros disponíveis para 2016. Se as vendas forem também 10% menores do que em 2015, seriam necessários 188,1 milhões de litros, o que deixaria um estoque de 18,1 milhões no fim deste ano. Esse volume seria suficiente para atender o consumo de apenas um mês de 2017. Ou seja, faltaria vinho de mesa no início de 2017 até que a nova safra fique pronta para consumo.
Avaliando os dados do Ibravin sobre suco de uva, o estoque inicial de 2016 era de 45,4 milhões de litros e a produção desta safra foi de 85 milhões de litros, totalizando 130,4 milhões. No caso de o produto também apresentar queda de vendas de 10%, seriam comercializados este ano 129,1 milhões de litros. Ou seja, sobrariam apenas 1,3 milhões de litros, o que daria para um período equivalente a apenas 0,1 mês de 2017. Nesse cenário, não haveria um problema tão grande porque o suco não tem um processo demorado para fabricação quanto o vinho. Ele fica pronto pouco tempo após ser processado e a colheita da uva é no início do ano. Porém, como o suco é um mercado que vem crescendo em números vertiginosos, até na faixa de 20%, 30% ao ano, talvez, a venda não tenha essa queda em relação a 2015, mas, sim, uma estabilização ou até um pequeno crescimento. Nesse caso, faltaria suco no mercado ainda antes do final do ano, em novembro.
Conforme o diretor técnico do Ibravin, Leocir Bottega, mesmo com esse cenário, o setor não defende a autorização de importação de vinho a granel, hoje não permitida, mesmo que de forma temporária e emergencial. “Quando se fala de temporário, sabemos que em alguns casos, acaba virando permanente em função de pedidos de liminares e decisões judiciais”, entende. Desse modo, o setor seria prejudicado a médio e longo prazo.
Na vinícola Salvador, de Flores da Cunha, que compra uvas de produtores terceirizados, o gerente comercial e enólogo Daniel Salvador diz que é bem provável que falte vinho de mesa e suco ainda este ano. Só é difícil fazer uma projeção exata de quando, em função desse ano de comercialização atípica, pelo aumento do IPI e pelo momento econômico. Na Vinícola Luiz Argenta, também de Flores da Cunha, a quebra de safra foi entre 50% e 60%. Como a empresa só trabalha com vinhedos próprios, a safra de vinhos 2016 não terá algumas variedades, como pinot noir, riesling e gewurztraminer, pela produção insuficiente.
Para compensar as perdas e os estoques mais baixos, as vinícolas têm investido em enoturismo e espaços para eventos como fontes alternativas de renda. A Luiz Argenta, por exemplo, inaugurou no mês passado um restaurante no terraço, que serve almoços de terça a domingo e atende eventos à noite. A Dal Pizzol, de Bento Gonçalves, que também tem um restaurante para eventos, acabou de lançar um novo produto chamado Piccolo Piacere, um piquenique, sob agendamento, no espaço da vinícola. Já a Monte Reale, de Flores da Cunha, está investindo na ampliação do espaço para eventos e festas sunset e também em um bar dentro da vinícola.